O hindu e o hinduísmo em Bali – o dia do silêncio, o início de um novo ano
Não se sabe ao certo como o hinduísmo chegou a Bali. Existem
relatos que 500aC a ilha tinha uma predominante influência budista,
provavelmente dos primeiros colonos vindos da China.
Há quem diga que a religião foi levada por indianos, no
segundo século 2 d.C. Outros afirmam que foram os próprios moradores locais
que, após viajarem à Índia, adoptaram a nova religião.
O povo de Bali segue uma religião chamada Bali-Hinduísmo. É
baseada no hinduísmo, mas inclui antigas crenças da tradição de Bali e de Java.
Os bali-hindus cultivam o espírito da natureza incluindo montanhas, rios e
árvores. Honram os espíritos dos antepassados que eles acreditam serem
constantes visitas.
Bali é diferente da Índia. O hinduísmo balinês carrega
influências do budismo e do animismo, uma espécie de manifestação religiosa que
envolve os elementos da natureza.
Os balineses veneram a trindade hinduista: Brahma (O criador
do universo, a inteligência criadora, representa a mente cósmica), Shiva (o
poder de destruição ou transformação) e Vishnu (o poder de manutenção do
universo), mas para o hinduísmo balinês o deus supremo é o Sang Hyang Widhi
Wasa.
A base fundamental do Hinduismo vêm do Dharma - a ordem no
cosmos – no entanto, os hindus também reconhecem a força da desordem - Adharma.
No hinduismo, o objetivo é a busca constante da harmonia e equilíbrio entre
estas duas forças.
O povo balinês, sob a influência do hinduísmo, faz todas as
suas comemorações baseando-se em ciclos de 210 dias lunares. O seu
calendário - Wuku – divide-se em linhas, que indicam os
210 dias, e em colunas que indicam os dias da semana. Cada semana e cada dia
têm um nome próprio.
O Nyepi, ou Dia do Silêncio, marca o início do novo ano
hindu balinês e é um dia em que os crentes rezam, meditam e jejuam durante 24
horas.
No dia que antecede o Nyepi, Bali vive o Butha Yajna, ritual
para vencer os maus elementos do mundo e criar harmonia entre os deuses, a
natureza e os seres humanos. A parte mais famosa deste ritual são desfiles
carnavalescos onde os ogoh-ogoh’s, bonecos feitos de papel e bambu
representando entidades demoníacas e maus espíritos, lutam entre si. Após essa
cerimónia, os bonecos são carregados pelas ruas até o Ngrupuk, ritual onde são
queimados em forma de agradecimento.
O dia do silêncio é o dia mais importante da sociedade
balinesa. Mesmo aqueles que não são hindus, respeitam este dia (que é móvel de
acordo com o ano). No dia do silêncio não é permitido sair de casa, não se
trabalha, não se viaja, todas as luzes devem ficar apagadas e não se deve
comer.
Todos os meios de comunicação estão suspensos por 24h. O
aeroporto internacional de Bali (Denpasar – DPS) está encerrado, não se
realizando qualquer voo nacional ou internacional. Este é o único aeroporto do mundo que fecha um dia inteiro
por motivos religiosos. As ambulâncias são os únicos veículos autorizados a
circular nas ruas da ilha. Como medida de prevenção, permanecem em alerta os
serviços de emergência e segurança, assim como os radares do aeroporto.
Aos turistas é pedido que permaneçam nos hotéis e que não
frequentem as ruas, praias, restaurantes ou espaços comerciais. Todos devem
respeitar o dia do silêncio. Quem não o fizer é convidado pelos pecalangs,
seguranças tradicionais do Nyepi, a voltar para suas casas ou hotéis e lá
permanecer em silêncio.
Após o Nyepi, outro ritual toma conta da ilha. O Ngembak
Agni, é realizado por todos os hindus para que se perdoem mágoas ou rancores e
se comece com boas energias o novo ano que se avizinha.
O dia do silêncio é um marco único para quem é estrangeiro e
vive em Bali. É um dia destinado ao
silêncio, à meditação e a auto-reflexão sobre aquilo que somos na Terra, o
respeito que temos por nós, pelos nossos antepassados e pelo meio que nos
envolve. É um dia de balanço e de reflexão para aquilo queremos ser nos próximo
210 dias lunares.
A todos, um 9 de Março com muito respeito e muita harmonia.
Que os próximos 210 dias lunares vos tragam tudo o que
buscam.
Selamat Hari Nyepi